sábado, 25 de abril de 2009

Vapor barato

(Waly Sailormoon e Jards Macalé/Zeca Baleiro)



Ando tão à flor da pele
Que qualquer beijo de novela me faz chorar
Ando tão à flor da pele
Que teu olhar flor na janela me faz morrer
Ando tão à flor da pele
Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele
Que a minha pele tem o fogo do juízo final
Um barco sem porto sem rumo sem vela cavalo sem sela
Um bicho solto um cão sem dono um menino um bandido
Às vezes me preservo noutras suicido

quarta-feira, 4 de março de 2009

:)

Certo... Depois de tanto tempo sem escrever, sem as devidas "inspirações", veio uma vontade (uma má vontade incontida ) de escrever.
Vejamos, então...
Relatar os últimos acontecimentos não caberia, envolve terceiros. Mas as conclusões tiradas são gerais. E cada vez mais eu me certifico que momentos são poucos, o tempo é curto e longo.
E que a felicidade é apenas uma ideia de conforto que o ser humano criou pra acreditar que um dia as suas dores irão cessar.

Não, eu não sou pessimista. Apenas penso em estar para não ser. O ser é uma ilusão de bem-estar mal projetado. O estar é o analgésico que temos pra fazer adormecer nossa vontade frustrada de felicidade.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Poeticamente contida.

Eu sei do quanto sou fraca
Eu sei do quanto sou forte
Eu sei dos meus pontos fracos
Eu sei canalizar a minha força
Eu pouco me conheço
Não me surpreendo comigo
Eu sei do que pode acontecer
Eu permito que aconteça
Eu sei do que devo
Eu faço só que não devo
Eu sei o que dói mais
Eu sei causar a dor
Eu sei que preciso dormir
Eu sei que um dia vou acordar
Eu sei que vai ficar tudo bem
Eu sei que não estou bem
Eu sei que vai passar
O tempo parou.

Eu sei da minha independência
Eu sei me fazer de fraca
Eu sempre me faço de fraca
O tempo parou.

Eu sei do que não preciso
Eu não sei do que preciso
Eu sei me ferir
Eu sei machucar
Eu sei me doar
Eu não sei esperar
Eu sempre espero
O tempo parou.


Eu sei que preciso fugir
Eu sei que preciso encontrar
Eu não preciso chorar
Eu quero chorar
Eu sei que preciso me bastar
Eu sei que preciso me poupar


Preciso de uma dor real
Preciso abstrair minhas idéias
Preciso das minhas idéias
Preciso de um dia
Preciso de uma noite
Preciso de alguém
Preciso ficar só
Preciso me bastar
Preciso me amar
Preciso amar
Preciso reconhecer
Preciso me conhecer
Preciso morrer
Preciso viver
Preciso voltar
Preciso ir
Preciso de mim.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Implosão

É deprimente sair de si e perceber que se está triste por não encontrar um motivo para estar triste. Na verdade, não é bem esse sentimento que eu queria/quero carregar. Eu já o carrego. Então, teoricamente, sou feliz. Não, pois ele não tem tirado o meu fôlego, me deixado sem ar, me trazido insônias. O problema está aí. Acho que qualquer emoção que nos traga essas conseqüências é válida. Mesmo “negativas”, mas que nos faça ruir, sorrir, sentir que temos matéria em nossos corpos.
Pareço masoquista. Eu sou, às vezes (na maioria, admito). Provavelmente continuarei sendo, mesmo depois de ter encontrado a “felicidade plena” (o que, sinceramente, não creio que seja possível), ou o pedaço de “uma” ágata que deixei cair em algum lugar. Ainda assim, quero continuar sendo masoquista para me sentir plena com um instante de prazer, e poder sentir cada parte do meu corpo todas as noites em que eu me deitar.
Para amar incessantemente e, no ápice da paixão, ter um inevitável desvanecimento, sentindo meu corpo, mais uma vez, ao descobrir que como eu, as pessoas são tão deprimentes.

Eliot


Em verdade fui ontem à casa de uma pessoa queridíssima que me emprestou um livro - “Carol”, de Patrícia Highsmith. Neste, li uma citação do poeta modernista que deu nome a este blog, o Eliot, e que dizia assim “Não é isso absolutamente, Não é isso que eu quis dizer, em absoluto”. Verso, este, que me chamou muito a atenção, não só por resumir os breves-acontecimentos-contemporâneos-banais da minha vida, mas pelo aparente “vazio” das palavras. Palavras que, inevitavelmente, têm me preenchido e me abastecido de perguntas. Mas quem se “interessa” por mim? Vamos ao Eliot...
Thomas Stearns Eliot é um dramaturgo e poeta modernista nascido nos Estados Unidos, em 1888. Aos 22 anos Eliot escreveu um poema chamado “The love song of J. Alfred Prufrock” (A canção de amor de J. Alfred Prufrock) que narra um conflito interno de um homem de meia idade, aparentemente - Alfred Prufrock - no qual ele fala sobre a sua falta de movimento, as oportunidades e amor não atingido.
O poema é denso e tem uma beleza triste, pra quem se interessar, vale a pena conhecer (inteiramente):
“(...)
...E valeria a pena, afinal,
Após as chávenas, a geléia, o chá,
Entre porcelanas e algumas palavras que disseste,
Teria valido a pena
Cortar o assunto com um sorriso,
Comprimir todo o universo numa bolaE arremessá-lo ao vértice de uma suprema indagação,
Dizer: "Sou Lázaro, venho de entre os mortos,
Retorno para tudo vos contar, tudo vos contarei."
— Se alguém, ao colocar sob a cabeça um travesseiro,
...Dissesse: "Não é absolutamente isso o que quis dizer,
...Não é nada disso, em absoluto."

Eliot.